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O desafio era instigante ao propor que o ano de 2020 fosse descrito em uma única palavra. Sem hesitar respondi "solidão", motivada pela experiência das aulas remotas impostas no decorrer do ano letivo.
Depois de um brevíssimo contato com os alunos, em março de 2020, nós professores fomos surpreendidos com a brusca interrupção das aulas presenciais. Através da colaboração mútua entre colegas, o apoio institucional e até mesmo a ajuda dos próprios alunos, aos poucos conseguimos fazer a transposição das dinâmicas de um ensino tradicional para o mundo digital, para muitos até então desconhecido. Inegável que o sentimento de solidão existiu no uso das complexas plataformas que priorizam a atenção na oratória de quem conduz a aula virtual, ainda que possibilitem a interação dos ouvintes, através do ligar/desligar dos microfones e câmeras. O maior instrumento do processo ensino-aprendizagem, a intercomunicação presencial, foi limitada pela tecnologia.
O ensino à distância é uma realidade presente há tempos no ensino universitário, mas resistimos a sua predominância, pois é na relação com o outro que desenvolvemos e consolidamos nossas visões de mundo. E isso não se dá apenas na exposição dos conteúdos. Existe um "currículo oculto" que passa pela conversa paralela com os colegas, pelos eventos coletivos que interferem na rotina, pela intervenção inesperada que pode mudar o planejamento feito e até mesmo pelas expressões dos alunos no decorrer das atividades. Enfim, o mundo externo e seu dinamismo integram o processo pedagógico.
Ainda que as ferramentas tecnológicas ofereçam várias possibilidades audiovisuais, fomos cerceados por uma tela, muitas vezes com nossa imagem emoldurada por um fundo artificial para preservar nosso ambiente privado. Nesse cenário, nossa timidez e insegurança aos poucos foram superadas.
Ao final do ano letivo, pedi aos alunos uma avaliação sobre essa experiência. Na leitura de seus relatos, percebi que a palavra escolhida no desafio não mais encontrou sentido, eis que a percepção de solidão, trazida especialmente pelo silêncio predominante nos encontros virtuais, foi superada pelas revelações feitas. Ao lado de manifestações de pesar sobre a falta do contato pessoal, destacaram-se os agradecimentos pelo esforço dispendido, pelo material oferecido e pelas gravações das aulas disponibilizadas, pois isso facilitou o acesso às atividades nos momentos mais oportunos para cada aluno. A palavra "reinventar" foi constante nessas avaliações e com ela a gratidão e o desejo do reencontro pessoal.
Percebi que não existe uma única palavra capaz de traduzir o ano de 2020, mas certamente todas aquelas possíveis passam pela ideia de superação. Na função de avaliadores, meus alunos me ensinaram que a empatia muitas vezes não é perceptível, mas que, ao ser revelada, desperta uma grande gratidão e alento. Mais do que isso, traz esperança, essa sim, a única palavra capaz de traduzir o que passamos a sentir em relação a 2021.